RENATO RIELLA
Tenho quase 50 anos de jornalismo duro. Nunca fui processado nem desmentido. Em quase todas as décadas, sofri ameaças de morte. Tenho um Prêmio Esso com o Caso Mário Eugênio (1985).
Por isso, posso dizer que a Veja, um patrimônio do jornalismo brasileiro, minha principal referência semanal, está indo pelo caminho errado.
Recebi agora a nova edição. No editorial (Carta ao Leitor), os editores de Veja cometem uma frase monstruosa para os fundamentos do jornalismo: “Os fatos continuam existindo mesmo escondidos”.
Quando uma publicação edita como destaque único na sua capa uma informação, presume-se que seja verdade já acontecida.
Veja anunciou que o ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, estava fazendo delação premiada dentro do Lava-Jato e apresentaria acusações contra o ex-presidente Lula.
Isso não aconteceu. E nem é um “fato escondido”. É um fato que um dia pode ocorrer – ou não.
Não dá para manter a credibilidade da profissão assim.
Da mesma forma, Veja acusou o jogador Romário de ter milhões de euros ilegais numa conta da Europa. O craque provou que não tem.
Na edição que acabei de receber, Veja diz que enviou para o Ministério Público o extrato bancário provavelmente falso que usou na reportagem. A revista precisa denunciar quem montou esta farsa contra Romário. Ou será que foi algum repórter bom em fotoshop?
Jornalismo não é torcida. É fato.