PAULO TIMM
Morreu no sábado passado, aos 78 anos , o físico baiano José Walter Bautista Vidal , ex-professor da Universidade de Brasília (UnB) e enaltecido como o grande incentivador do uso dos biocombustíveis no Brasil e, particularmente do Proalcool.
Foi ele, durante o Governo Geisel (1974-79) , à testa da área de pesquisa tecnológica, o idealizador do Programa Nacional do Álcool. Teve em outro professor da UnB ,Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), que desenvolveu o motor a álcool, importante colaborador.
Bautista deixa inúmeros livros publicados em defesa da economia nacional , sempre enfatizando a necessidade da afirmação da soberania do país , os quais continuarão ecoando sua voz altaneira na identificação dos problemas brasileiros, sempre apontando alternativas e soluções.
Dono de temperamento forte, Bautista não poupava os políticos, nem menos Fernando Henrique Cardoso e Lula, os quais acusava de não enfrentar com coragem o cerne do desenvolvimento brasileiro, que é a questão energética.
Crítico da Era do Petróleo, viveu na carne, como Secretário de Tecnologia Industrial , a primeira crise do petróleo, nos anos 70, quando o preço do barril saltou de $US 2,50 o barril para mais de $US 10.
Desde então deu início à sua pregação a favor do salto energético para os biocombustíveis, mas sempre ressaltando tratar-se não só de uma opção tecnológica, mas um passo em direção à redefinição do modelo econômico fortemente concentrador de renda na pirâmide social e no Sul industrializado.
Via no álcool a possibilidade de redimir regiões depauperadas do país, que poderiam encontrar no cultivo de matérias-primas para a produção de energia um verdadeiro alento, eis que detentora de água em abundância, muito sol e áreas cultiváveis.
BRASIL, O PAÍS DO
SALTO ENERGÉTICO
Para ele, o Brasil era o único país do mundo capaz de dar este salto energético enterrando, de vez, a Era do Petróleo, com uma energia limpa, renovável e fortemente redistributiva. Mas não acreditava que a Petrobras pudesse liderar tal processo, em virtude de seu viés fortemente petroleiro.
Sugeria, sempre, uma outra empresa que não concentrasse o processo produtivo, mas o estímulo para que cada estado, cada município deste imenso país, cada comunidade, se conscientizasse da necessidade da auto-suficiência energética e se voltasse à produção de biocombustíveis.
Bautista não foi feliz em sua peroração. Vários governos se sucederam sem lhe dar a devida atenção. Lula o escutou e chegou, até a se entusiasmar com a idéia. Foi quando saiu pelo mundo falando em biocombustíveis. Mas o anúncio da descoberta das jazidas do pré-sal o levou a mudar o discurso, certo de que ali estava um filão de rendimentos rápidos, não só financeiros, para o Estado, mas para a causa política que lidera. Mais uma frustração para Bautista.
Contudo, continuou, incansável, pelo país inteiro distribuindo sua eloqüente convicção na defesa do álcool e dos biocombustíveis.