O desmoronamento de Arruda, Agnelo e Filippelli me dá profunda tristeza.
Ao longo dos anos, reconhecia em cada um desses o sonho de fazer coisas úteis à sociedade. Em qual momento caíram em tentação?
A prisão do trio deveria deixar triste toda a população de Brasília, pois eles seriam a renovação da nossa política.
Todos nós, em algum momento, investimos num desses três – ou até nos três. Tínhamos esperança de que trouxessem renovação, audácia e abertura para o mundo.
Desde 1998, trabalho com a principal pesquisa eleitoral do DF, a Pesquisa Consorciada da empresa Dados Opinião. Nessa Pesquisa, não atendemos diretamente partidos nem governantes.
Sendo Consorciada, a Pesquisa inventada por mim atende por cotas, orientando centenas de candidatos numa eleição. Fazemos levantamentos mensais de três a quatro mil entrevistas. Geralmente trabalhamos com candidatos a deputado. E conseguimos ter elevado nível de acerto nas votações.
Por isso, é difícil haver um político preso ou solto do DF que não seja meu amigo. Quase todos pediam minha opinião no período eleitoral, confiando nos dados levantados pelas pesquisas.
Historicamente, confesso que apresentei Arruda ao então governador Roriz, em 1990, e ajudei os dois no sonho de implantar um Metrô em Brasília. Não me arrependo por isso. E me emociono toda vez que vejo o Metrô circulando pelo DF.
Confesso que ajudei Filippelli quando ele era simplesmente um presidente da Shis, mostrando a Roriz que o engenheiro elétrico poderia virar um bom deputado distrital.
Muitas vezes cumprimentei Filippelli por ter feito a L4, uma pista fantástica que liga o Lago Norte ao Guará e tira milhões de carros do centro de Brasília.
Confesso que aproximei Chico Vigilante, então presidente do PT, do Filippelli, então presidente do PMDB. Nessa aproximação, houve a escolha de Agnelo Queiroz como candidato a governador, em 2010. Chico e Filippelli eram inimigos e só conversaram com minha intermediação, em dois encontros na minha casa.
Confiei muito em Agnelo. Conheci ele como grande defensor da democracia. Foi fiscal intenso das atividades de governo do DF, durante décadas. E assim se tornou famoso.
Convivi sempre com muitos outros políticos, como Gim, Luiz Estevão, Cristovam, Reguffe, Leonardo Prudente, Joe Valle e Márcia Kubitschek, para citar suspeitos e insuspeitos.
Dito tudo isso, reafirmo: estou muito triste.
Quem vai sobrar para reconstruir um ambiente político em Brasília?
E faço a principal pergunta: os futuros políticos terão procedimento diferente?
Da minha parte, vou agir como sempre: estarei coordenando pesquisas em 2018, orientando quem for candidato. E continuarei ganhando um dinheiro limpo, com notas fiscais emitidas dentro da lei.
Uns e outros que se cuidem. Depois de eleito, cada um que aja de acordo com sua consciência.
Mas todos nós estaremos de olho, certamente.
Vai ser mais difícil roubar a partir de agora. Esta é a grande mudança. (RENATO RIELLA)