RENATO RIELLA
Domingo de noite visitei minha neta de cinco anos, Cecília (mesmo nome da minha mãe). Ela sempre sabe tudo sobre tudo – e mais alguma coisa.
Há alguns meses, foi comigo ver o Circo Tihany. Percebi que estava assistindo todas as mágicas séria, quase sem piscar. Depois do espetáculo, me afirmou que descobriu todos os truques. E levou um tempão explicando mágica por mágica. Coitado do Tihany!
Quando encontrei Cecília em casa, no domingo passado, ela via um desenho animado politicamente incorreto, no qual o herói é o horrível Capitão Gancho.
Parem o mundo que eu quero voltar à época do Donald, do Bolinha, do Mickey e da Super-Luluzinha!
Enquanto a gente curtia o Capitão Gancho, puxei conversa. Contei que, aos três anos, não sei por que, enfiei dois grãos de feijão no nariz, lado direito (o lado mais saudável hoje, por sinal).
Durante algum tempo, minha mãe (a outra Cecília), percebeu que havia incômodo na minha face. Dias depois, dei alguns fortes espirros e os feijões pularam fora. Ela, que não era de mentir, assegurava que as sementes já estavam meio germinadas.
Pensando bem, foi como se a história do “João e o pé de feijão” fosse reinventada por mim, de dentro pra fora.
Depois do relato, assumi ares de mestre perante Cecilinha, que me olhava meio de lado, pensando: “Só um menino muito bobo botaria feijões dentro do nariz!”
Tentei explicar a esta minha avançada neta que ninguém deve enfiar nada no nariz, nem também no ouvido. Ela interrompeu por alguns segundos a atenção sobre o Capitão Gancho e ensinou:
-No ouvido é muito mais perigoso!
Perguntei por que – e o toquinho de gente respondeu com sapiência:
-É claro! Ouvido não espirra – depois sorriu com ar superior, como se fosse um Confúcio, um Platão ou um Rui Barbosa (fecho a história com esta importante referência baiana). Saravá!
