Perdi um grande amigo pela covid: Dr. Jair Evangelista, marido da jornalista Jane Godoy.
Nos últimos meses, eu vinha convencendo ele a escrever “ As Histórias da Pediatria”, relatos pessoais que gerariam um livro muito interessante editado por mim, para ser lançado em 2022 (fica adiado para sempre).
Jair foi durante mais de quatro décadas a referência da Pediatria no Hospital de Base. E teve papel destacado na criação do Hospital da Criança de Brasília, onde dava apoio significativo na administração, após sua aposentadoria.
Estou muito triste, mas prefiro destacar a face feliz do Jair, em dois episódios que iriam entrar no livro dele. Leiam!
No primeiro caso, o recém-formado médico Jair salvou uma criança desenganada, com extrema dedicação. Isso foi há muitas décadas.
Anos depois, ele atendeu a um menino já crescido, acompanhado pelo pai. Perguntou o nome do menino. O pai respondeu:
-Jair. Dei este nome em homenagem a um médico muito novo que salvou ele no nascimento.
Meu amigo Jair não se conteve e falou baixinho:
-Sou eu – e deram um grande abraço de felicidade.
Outro caso é ainda mais incrível.
O médico dedicado cuidou de um recém-nascido, que nasceu com defeito congênito. Era mantido vivo durante alguns dias graças à teimosia do Jair.
Passada uma semana ou mais, o pai do menino pediu para retornar ao interior de Minas Gerais, onde havia deixado diversos outros filhos em situação de necessidade.
Dito isso, foi embora – e nunca mais voltou.
Quatro anos depois, Jair fez o milagre de não apenas salvar o pequeno paciente, mas conseguiu dar ao menino relativa normalidade.
Coube à assistência social do Hospital de Base trazer a Brasília o homem pobre, que levaria a criança para casa, depois de quatro anos internado.
Foi grande emoção, com choro e abraços, quando o encontro se deu. O pai se justificou. Pensava que a criança não havia resistido. Por isso sumiu.
Agradecido, segurou na mão do Jair e arrastou o médico até a escada do Hospital de Base. Sabem por que?
O pai decidiu descer, ajoelhado, os sete andares do hospital, agradecendo a Deus e ao Jair pelo milagre.
O livro fica parcialmente resgatado nestes meus relatos.
Quando ao Jair, está sendo recebido com tapete vermelho do Oscar lá em cima: astro total.
(RENATO RIELLA)