«

»

abr 13 2020

MANDEI PRENDER OS NOVOS BAIANOS – SEM QUERER

A perda de Moraes Moreira me abala. Estou vivendo um isolamento quase mudo, como novo Robinson Crusoé. Qualquer coisa me emociona.

Preta Pretinha foi a música que marcou os momentos de felicidade da minha juventude. Inesquecível!

Hoje, triste, homenageio o genial baiano, lembrando episódio que vivi com ele no início das nossas carreiras.

CABEÇAS RASPADAS

É possível ter remorso mesmo sem culpa. Às vezes, sim!
Em 1969, como repórter dos Diários Associados, fui ao Porto da Barra de manhã entrevistar os Novos Baianos.
Depois de muito sucesso no Rio e São Paulo, o grupo estava hospedado num pequeno hotel em frente ao mar de Salvador.
Lá chegando, vi os caras de cabelos enormes e roupa de mendigo sentados na mureta do Porto, com risco de cair para trás, numa altura razoável. Doidões!
Moraes Moreira, Galvão e outros amigos dando sopa, disponíveis no início da manhã.
Por coincidência, chegou junto comigo o hoje famoso jornalista baiano Fernando Vita, do Jornal da Bahia.
Nós dois, jovens jornalistas (ainda estudantes), enfrentamos os malucões do rock baiano juntos, numa entrevista confusa, mas fantástica.
Chegando à redação, entusiasmado com o que vi, comecei minha ótima reportagem assim:

“Bichas – gritou um cara que passava de ônibus no Porto da Barra. Eles não são bichas nem nada. São apenas Os Novos Baianos, que voltam à Bahia, depois de fazer sucesso no Sul”.
Os dois jornais (Diário de Notícias e Jornal da Bahia) circularam com fotos chocantes de primeira página, mostrando indivíduos fora de qualquer padrão. Muito esquisitos!
No início da manhã, ao ler os jornais, o delegado da Delegacia de Costumes de Salvador, sem mais nem menos, mandou recolher os já famosos artistas Novos Baianos ao xadrez.
Para completar, raspou as longas cabeleiras. Imagine você ver Moraes Moreira de cabeça raspada…
Anos e anos depois, quando eu e Fernando Vita nos encontrávamos, fazíamos de longe acusações mútuas:
–“Foi você que raspou a cabeça dos Novos Baianos”. “Coisa nenhuma, foi aquela sua reportagem maluca”.
Mas cabelo cresce…
Hoje, sinto saudade do sempre novo baiano, que morreu sem ter envelhecido.

RENATO RIELLA

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode usar estas tags e atributos HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*