RENATO RIELLA
O desafio de Marina Silva era semelhante ao de Cristovam Colombo, quando se propôs a colocar um ovo em pé. Ele pegou o ovo, bateu na madeira, quebrou levemente uma ponta e conseguiu a façanha. Todos disseram: “Assim é fácil!”. Mas ninguém teve a ideia antes.
Marina surpreendeu todo mundo, indo para o PSB. Pôs o ovo em pé. No entanto, o desafio dela é maior do que o de Colombo, pois precisará restaurar o ovo, devolvendo a sua integridade. É praticamente impossível fazer isso.
Diz a Bíblia que devemos enfrentar apenas o desafio do dia. Amanhã é outra batalha. Ok! Mas não deixemos de ver as dificuldades futuras.
A partir de amanhã, diariamente, todos os jornalistas e mesmo cidadãos comuns estarão perguntando se o candidato a presidente do PSB será o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dono do partido, ou a dona do Rede (que ainda não existe), Marina Silva.
Ambos perderão a paciência milhares de vezes ao serem questionados em toda esquina sobre isso. E mais: o grupo de Eduardo e o grupo de Marina passarão a trabalhar, a cada segundo, para fortalecer o seu candidato – esvaziando o outro.
E se aparecer alguém pedindo a realização de prévias dentro do PSB? Como o partido, inchado repentinamente, vai se posicionar diante de temas polêmicos, se não tem um programa definido? O PSB tem apenas a sede de ganhar o Palácio do Planalto. A visão ideológica de Marina, no estilo de antes da Guerra Fria, vai incomodar bastante o pragmatismo dos pessebistas. Haverá conflitos.
NÃO HÁ COMO TRANSFERIR
PATRIMÔNIO ELEITORAL
Quem entende de pesquisa sabe que o patrimônio eleitoral de um bom candidato não é repassado automaticamente a outro nome. Nem de pai para filho. Assim, os cerca de 20% que Marina vem ostentando nas pesquisas não engrossarão os índices baixíssimos de Eduardo Campos.
Parte dos votos da Marina irá para os “indecisos”. E outras partes irão para os outros candidatos: Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos.
Será uma decepção para o pessoal do PSB constatar que, nas próximas pesquisas, Eduardo Campos não herdará todos os votos de Marina. Espera-se dela tanto quando o Barcelona espera de Neymar, rápido e eficiente. Mas a política é mais complicada.
Depois dessa data fatal da filiação partidária (5 de outubro), haverá semanas de acomodação de forças, e logo depois vem o período natalino.
Política de verdade vai acontecer nos meses de março, abril e maio, com uma trégua de dois meses para a Copa do Mundo. No fim de julho, volta o frisson, com o registro de chapas. Este é o calendário óbvio, movimentado por acidentes e situações imprevisíveis.
Marina colocou o ovo em pé. Mostrou que é mais esperta do que se pensa. E até sorriu com todos os dentes. Mas a estrada é longa e cheia de assaltantes.