RENATO RIELLA
Não perco tempo com a Maju da Globo. Ela não tem problemas. É bonita, deve estar cheia de propostas de casamento, valorizou-se profissionalmente e sabe se defender. Se duvidar, luta até capoeira.
Preocupo-me com todos os negros do Brasil.
Hoje, aqui em Brasília, fui a muitos lugares. De manhã, levei minha nora, Anna Paula, a um hospital particular de classe média. Durante duas horas, convivi com mais de cem pessoas, num entra-e-sai danado: nenhuma era negra.
Dei rápida passada na Ceasa, para comprar castanhas de caju. Praticamente não vi negros no lado de cá nem no lado de lá do balcão. Para quebrar a monotonia, vi descendentes de japonês.
Cortei cabelo num salão também classe média. Nenhum pretinho por perto. Nem o cabeleireiro, que é moreno.
Almocei num restaurante selfservice, onde vou bastante. Mais de cem pessoas, todas brancas – com exceção de quatro serventes, jovens uniformizados, mulatos ou negros.
Fui a muitos lugares e me pergunto: onde andam os pretos de Brasília?
Passei no início da noite num restaurante classe A de Brasília. Aí é que coisa se complica. Só havia brancos, muito bem vestidos, e louras.
Chamo todos à reflexão: Maju é um ponto fora da reta, a caminho da felicidade.
Devemos nos preocupar diante da constatação de que, em pleno Século XXI, a Lei Áurea ainda não fez efeitos reais. É um belo projeto, apenas. Para quando?