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dez 03 2017

Naki, jardineiro negro da África do Sul, foi “cirurgião” top no primeiro transplante de coração, há 50 anos

bernardRENATO RIELLA

Uma das histórias mais fantásticas do mundo está fazendo hoje 50 anos. É o aniversário do primeiro transplante de coração feito no mundo pela equipe do Dr. Christian Bernard, na África do Sul.

O que ficou escondido, quase nunca merecendo o devido destaque, é que um negro sul-africano, em pleno apartheid, teve papel fundamental como “cirurgião”, embora fosse apenas um jardineiro, sua profissão até o fim da vida – e pela qual se aposentou.

Esta é a história de Hamilton Naki, um símbolo emocionante da discriminação racial na década de 60.

Na verdade, nos anos que antecederam o primeiro transplante humano, este homem negro, pobre e segregado pelo apartheid. aprendeu a realizar os procedimentos mais difíceis da cirurgia cardíaca, fazendo operações em animais.

Os verdadeiros médicos não queriam perder tempo com esta atividade, considerada imprópria para os formados nas grandes instituições. Nada a fazer com cobaias! E Hamilton que cortasse cabras e carneiros para aprender a transplantar corações.

Passaram-se anos. Na hora de se fazer o primeiro transplante humano, Christian Bernard concluiu que o jardineiro era realmente o profissional mais habilitado para retirar o coração de uma mulher falecida, em condições de implantá-lo num homem, sem danificar o órgão. Alta responsabilidade!

Hamilton já tinha feito isso centenas de vezes em animais de porte médio. E, claro, foi bem sucedido no grande momento.

Com o tempo, perguntou-se porque um negro aparecia nas fotos da equipe vitoriosa. A dureza do regime racista mais nojento do mundo impediu o médico Bernard de contar a verdade. Ele, que repudiava o racismo, apenas podia dizer que Hamilton Naki fez parte da equipe de limpeza.

Em depoimento para a BBC de Londres, quando o apartheid foi declarado extinto, o médico pioneiro dos transplantes finalmente declarou: “Podia ver que ele era um jovem muito capaz e lhe dei mais o que fazer. Eventualmente, ele poderia fazer um transplante de coração melhor do que os médicos em formação, que vieram da Universidade de Cape Dow”.

Anos depois, com a abertura das relações raciais na África Sul, o grande médico Christian Bernard citou o fato de forma real, diversas vezes, nas principais revistas internacionais. Repôs a verdade, mas não conseguiu melhorar de forma substancial a vida de Hamilton Noki.

O preconceito cristalizado na elite sul-africana nunca aceitou plenamente este feito de um negro. E Noki não mereceu as devidas homenagens, em diversos momentos. Virou referência histórica em algumas publicações, apenas!

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