PAULO TIMM
A semana que passou foi uma das mais interessantes de todo o ano.
Na Economia, repercutiram dois Relatórios: O do Banco Mundial, reiterando opiniões do Governo sobre o déficit fiscal, e o da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio, ano 2016, mostrando, uma vez mais, o horror da concentração da renda no país.
Uma palavrinha sobre o Relatório do Banco Mundial. É uma peça esdrúxula, desnecessária, tendo em vista a elevada capacidade técnica do Brasil em produzir este tipo de documento.
Rigorosamente, este Relatório foi solicitado, talvez como recurso de imagem, para alguma ação governamental, em 2016, na Governança de Dilma Roussef. Chegou na hora certa…
Foi elaborado praticamente no país, com o auxílio de instituições, informações e pessoal local. Não tem nada de novo. Força a mão na necessidade da Reforma da Previdência como saída para o déficit do Governo e traz a pérola de dizer que a Universidade Pública é um reduto dos mais ricos, quando todas as pesquisas demonstram que 65% das vagas já são ocupadas pelas classes mais baixas.
Destino do Relatório: lixo. Mas cumpriu sua função propagandística.
O Relatório do PNAD, ao contrário, é uma peça consistente, como aliás todas as informações estatísticas do Brasil, internacionalmente reconhecidas como de boa qualidade.
O PNAD é uma radiografia social dos rendimentos familiares. Revela o que todos sabemos há muito tempo: concentração.
O 1% dos trabalhadores com os maiores rendimentos recebia R$ 27.085, em média, ou 36,3 vezes mais do que a metade com os menores rendimentos de trabalho (R$ 747).
De uma população de 205,5 milhões, só 124,4 milhões possuíam, em 2016. algum tipo de rendimento, sendo que, desses, 87,1 milhões viviam do seu trabalho e 49,3 milhões viviam de outras fontes, como aposentadoria e pensões, além de cerca de 25 milhões, com transferências e rendas de propriedade.
Pergunta óbvia: Se somos 205 milhões e só 124 milhões tiveram algum rendimento, onde os 81 milhões restantes?
Aí estão as crianças até 14 anos, metade deste contingente; a outra metade não se sabe como sobrevive…
A dura realidade é que cerca de 100 milhões de brasileiros, na sua maioria pretos e pardos, morando nas periferias das grandes metrópoles brasileiras, ganham até 1 Salário Mínimo…Pode?
