RENATO RIELLA
Se não acontecer nada de extraordinário no governo Michel Temer para salvar o Brasil, rezo por uma mudança simples, econômica e visível: que se eliminem as cercas.
Cheguei em Brasília no início da década de 70, em plena ditadura militar, quando os governos armados tinham medo de atentados terroristas. Mas era tudo livre, aberto, acessível, claro, solto…
Fiquei surpreso, na primeira vinda a Brasília, em 1973, diante da facilidade de chegar ao Palácio da Alvorada – sem cones, sem guardas, sem cercas, sem medo, sem desvios, sem bloqueios.
A gente levava as crianças para jogar moedinhas no fosso do Palácio e até perguntava aos guardas: “O que acontece quando o fosso fica cheio de dinheiro?”
E eles respondiam: “De tempos em tempos, as moedas são retiradas e doadas a uma instituição de caridade”. Isso acabou. Nós, o povo, somos perigosos…
Brasília se tornou uma prisão. Até os dois últimos governadores entraram nessa. Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg têm medo, têm nojo de povo.
O Palácio do Buriti vive cercado, blindado, crachazado, inacessível às pessoas comuns, que votam e elegem esses caras.
Fui secretário do Trabalho na década de 90, durante quatro anos. Negociei mais de 200 movimentos grevistas, no momento em que tínhamos inflação de 40% ao mês. Os sindicalistas e outros representantes das categorias profissionais invadiam o Buriti, com absurda liberdade. Me cabia negociar as desocupações – sem tiro, sem bala de borracha, sem gás de pimenta. Sem nem chamar a PM.
Brasília precisa resgatar o acesso aos monumentos. Tenho vergonha de levar visitantes estrangeiros para conhecer a cidade. O próprio Congresso Nacional, em épocas de Renan e Cunha, tem pavor de gente.
Criaram uma tal de Polícia Parlamentar que é um terror. São verdadeiros torturadores, a serviço de políticos bandidos.
Por que o Estádio Mané Garrincha vive todo cercado? Porque tanta cerca no Palácio do Planalto? Por que os governantes têm tanto medo das pessoas?
Na época da Copa, meu filho Gil recebeu aqui no DF um pesquisador PhD estrangeiro. Quando foi levá-lo no Aeroporto JK, de partida, perguntou: “O que mais impressionou você em Brasília?”
Todos nós pensamos que o gringo se impressionou com a Ponte JK, a Catedral, o Congresso Nacional, os fantásticos gramados, o Parque da Cidade…
Nada, nada, nada! O PhD, repleto de viagens internacionais, respondeu rindo e mostrando fotos no celular: “O que mais me impressionou foi ver que Brasília é a cidade dos cones”.
Isso mesmo, pessoal! Vergonha! Os últimos governos, em compras superfaturadas, compraram mais de quatro mil cones para instalar nas nossas ruas, “concorrendo” com as obras de Niemeyer, os jardins de Burle Marx e Ozanam Coelho, e outras peças que compõem o Patrimônio Cultural da Humanidade.
Cercas e cones precisam ser banidos da nossa vida. Se o governo Temer mudar esse comportamento, já entrará na história.
Brasília precisa ser uma cidade livre. Sem medo de ser feliz.
