JEAN MARC MOR
As autoridades brasileiras estão completamente desinformadas (o que é impossível nesta altura da epidemia), ou então são irresponsáveis.
Ficamos estarrecidos com algumas declarações, não só de médicos, mas também do ministro da Saúde e de alguns responsáveis sobre a epidemia do ebola. Eles dizem que há chances remotas de o vírus circular por aqui.
Não é verdade. Não se pode afirmar isso. É uma epidemia global. O alerta da OMS, gravíssimo, foi global. Ninguém está livre, nenhum país, nenhum continente.
O vírus já está circulando fora do seu território natural. Não há nenhuma medida de controle ou fiscalização montada nos aeroportos brasileiros sobre passageiros suspeitos de estarem contaminados.
O vírus tem uma latência de três semanas. Por isso, a necessidade, de onde houver suspeita, monitorar o possível infectado desde a aparição de supostos sintomas. Até porque esses sintomas são muitos parecidos com os da dengue.
É preciso um treinamento especial dos médicos que vão trabalhar nessa identificação e contenção. E não há uma estrutura de médicos brasileiros, de vigilância, nos aeroportos brasileiros, há muito tempo.
Com a privatização dos aeroportos, a vigilância desapareceu. Parece que só sobraram alguns serviços para pequenas emergências, a cargo da Infraero, a agência governamental.
Onde houver morcegos, seu hospedeiro primário, haverá ebola. Aqui não será diferente. Quem está realmente tentando criar uma barreira sanitária eficaz é a OMS, a exemplo do sucesso que se obteve com a gripe aviária.
Seria melhor que as autoridades brasileiras deixassem seu ufanismo epidemiológico inconsequente e colaborassem ativamente com o esforço internacional para conter a epidemia.
(Jean Marc é médico francês que atua em consultoria no Brasil)