ALFREDO PRADO
Como se previa, o Brasil fez um compasso de espera enquanto desfilavam no Rio as marchinhas de carnaval.
Agora, que o tempo da folia se foi, as atenções estão de novo voltadas para o Brasil real:
-o dos protestos dos caminhoneiros, que se prolongam há quase duas semanas;
-o da corrupção que continua estampada nas páginas dos jornais;
-o de um governo que governa sem norte;
-o de uma presidente, sem sensibilidade política, que constrange correlegionários, aliados e o próprio país;
-o de um ex-presidente que diz que irá trazer para as ruas o apoio dos fiéis que não se sabe bem se ainda o são ou já nem tanto, nem quantos…
O QUE FAZER NESSA SITUAÇÃO EXPLOSIVA?
Os adversários de Dilma Rousseff – e hoje vão muito além dos políticos dos partidos oposicionistas, de traços ideológicos que vão da direita à esquerda – interrogam sobre o que fazer numa situação explosiva, como a que se vive atualmente.
A economia do país, depois da farra eleitoralista conduzida por Dilma Rousseff, pelos dirigentes do PT, e pelos seus principais aliados na partilha do poder, em particular o PMDB, está entre a estagnação e a recessão.
As medidas de austeridade, que têm vindo a ser anunciadas a conta-gotas, normalmente às sextas-feiras, na convicção, suponho eu, de que o chope e os vinhos de fim de semana arrefeçam os ânimos, prometem mais sacrifícios aos mais pobres e a uma classe média contribuinte.
Enquanto isso, o Brasil mantém um gigantesco aparelho de governo, com quase meia centena de ministros e equiparados, adjuntos, assessores especiais e sem especialidade, assessores dos assessores e assessores dos assessores dos assessores, com todas as benesses, mordomias, regalias e outras “ias” comuns aos poderes distantes do país real.
O rendimento médio per capita em Brasília, a capital, no Distrito Federal, é o maior do país, muito superior à média nacional. Nem São Paulo, o estado brasileiro com maior produção de riqueza, tem igual rendimento médio per capita.
CRISE SOCIAL, ALÉM DA ECONOMIA
A crise na economia é também social. A população acompanha a situação, nos mercados e nas feiras, nos restaurantes, nos transportes públicos, na conta da luz, na água, no preço do aluguel, no custo da gasolina e do diesel, nos medicamentos, com perplexidade e indignação. A inflação ganha força.
Há pouco mais de três meses, em campanha eleitoral, Dilma Rousseff, candidata à reeleição, debitava números e estatísticas que evidenciariam o êxito da sua governação, que mostrariam o combate às injustiças sociais.
Dilma e os seus assessores políticos e marqueteiros, pagos principescamente, apresentavam em catadupa na propaganda eleitoral, nas televisões e nas rádios, os números do “êxito” dos programas sociais que teriam criado uma nova classe média de milhões de brasileiros.
Será essa nova classe média, criada com polêmicos modelos estatísticos de gabinete, a que será mais atingida pela crise. A tal crise que o ex-presidente Lula dizia ser uma “marolinha” (pequena onda) que não afetaria o Brasil. Pois bem, a marolinha de ontem cresceu, cresceu, cresceu e hoje já parece ser um “marolão”.
Nos últimos dias não tenho ouvido a presidente, nem os ministros, nem os secretários, nem os acólitos de serviço, atacar os “pessimistas”. Nem Lula.
A CRISE É TAMBÉM MORAL
Mas, a crise não é só política, social e econômica. A crise é também moral. O país está estarrecido com a teia de corrupção que envolve empresários, executivos, políticos e partidos. O escândalo dos subornos à volta da Petrobras continua. Novos folhetins são esperados.
Nos últimos dias, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do Partido dos Trabalhadores, tornou público que o procurador-geral da República, Ricardo Janot, estaria sendo ameaçado.
Isto porque a residência de Janot, num condomínio fechado em Brasília, cercado de altos muros, teria sido assaltada. Os ladrões nada levaram e ficaram dentro da residência escassos minutos.
As investigações policiais nada apuraram, nada identificaram. Mas, mesmo assim, o ministro da Justiça colocou em execução um aparatoso esquema de segurança em torno do procurador-geral. Para quê?
Depois da prisão de empresários de grandes construtoras, acusados pelo Ministério Público de participação num esquema bilionário de corrupção tendo por núcleo a Petrobras, cabe agora a Rodrigo Janot enviar ao Supremo Tribunal Federal os nomes dos políticos envolvidos e contra os quais vai pedir a abertura de inquérito ou formular denúncias.
E esta poderá ser a parte explosiva do escândalo, já que tudo indica que a maioria dos políticos faz parte dos partidos que compõem o governo federal. O que não significa que políticos de outros partidos também não se tenham servido do banquete em que o gigante da indústria petroleira mundial foi transformado. Antes, durante, e depois de Lula. Um gigante de pés de barro.
O pior é que, com um sistema político e partidário falido, o Brasil está refém de uma conjuntura viciada que ameaça prolongar e aprofundar a crise.
IMPEACHMENT EM DISCUSSÃO
O “impeachment”, ou seja, a demissão de Dilma Rousseff, que alguns setores já defendem abertamente e que consideram teoricamente possível, seguindo regras constitucionais, não livraria o país da crise, advertem os que se lhe opõem.
Dizem que uma eventual saída de Dilma Rousseff levaria o vice-presidente da República, Michel Temer, do PMDB, ao Palácio do Planalto. O que, diz gente avisada, seria o mesmo que “trocar seis por meia dúzia”. Por isso, outros preferem esgotar politicamente o mandato de Dilma até ao último minuto. Para inviabilizar um novo mandato do PT, com ou sem Lula.
Mas há, é claro, outros fatores, talvez os mais importantes e determinantes.
Como é que a população em geral, os operários, os empregados, os professores, os estudantes, os milhões de micro e pequenos empresários, a classe média, enfim, vão reagir? Continuarão dentro de casa proferindo “desabafos” contra os governantes e os políticos em geral? Ou sairão para as ruas, pressionando por soluções?
DO SITE PORTUGAL DIGITAL