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abr 22 2015

ARTIGO: BRASÍLIA, O BULLYING E OS FLAMBOYANTS

ROSANA TONETTI

Predestinada a ocupar posição central nos rumos políticos e econômicos da nação, Brasília também parece condenada ao bullying. Constantemente agredida e humilhada, a cidade, que completa 55 anos neste 21 de abril, padece com a mordacidade alheia.

Seus habitantes já se acostumaram  – isso não quer dizer que aceitem – ouvir que a capital da República é o lugar com a maior concentração por metro quadrado de “ladrões”, “corruptos”, “canalhas” e “pilantras” – isso para ficar nos adjetivos publicáveis.

Mas é bom frisar que, para cada corrupto, existe pelo menos um corruptor. E que, em geral, nenhum nem outro pertence a Brasília. Podem estar, mas não são daqui. Importados de várias regiões do Brasil, só acabam ficando famosos quando a bomba estoura bem no seio da Pátria.

A maioria dos ministros empossados, secretários de estado e assessores nomeados em cargos de confiança não compete à cidade.

Dos 594 congressistas – 513 deputados e 81 senadores -, os eleitores do Distrito Federal são responsáveis pelo mandato de apenas oito para a Câmara e três para o Senado. Os 583 restantes desembarcam no Aeroporto Internacional Juscelino kubitschek pelo voto dos sufragistas das demais unidades da federação.

Por isso é tão importante que brasileiros e brasileiras escolham,  com muita atenção, seus representantes em seus respectivos estados! São eles que engrossam  a verdadeira massa de políticos que mancham a imagem da Capital.

Não que o DF não produza seus próprios espalhafatos –  que o diga o governo Agnelo Queiroz. Com apenas um mandato, sem conseguir se reeleger, o ex-governador se revelou uma verdadeira usina de escândalos e deixou as finanças e, principalmente a saúde pública, em frangalhos. Vergonha nacional!

Erguida ao sabor da profecia de Dom Bosco, como a terra prometida, de onde jorrará leite e mel, infelizmente se tem algo que nunca se viu verter no Planalto Central foram as tais sustâncias, nem a nutritiva e muito menos a adocicada – seja literal ou metaforicamente falando.

Tudo o que  tem borbotado até então é o lamaçal de mensalões, de lava-jato e uma infinidade de tantas outras operações cavernosas, presentes ou passadas – e quiçá, futuras.

Apesar, contudo, todavia, mas, porém, Brasília deve ser lembrada pela sua particular beleza, por ter sido concebida de forma inovadora e à frente de seu tempo.

Classificada pela Unesco de Patrimônio Cultural da Humanidade, foi totalmente planejada, com uma arquitetura despojada, cercada de muito verde, que serpenteia longas e expressas avenidas, emoldura quadras e parques. Em dias ensolarados, o céu de Brasília é translúcido e  convidativo. Impossível ficar em casa.

O Distrito Federal tem o segundo melhor IDH do País, o Índice de Desenvolvimento Humano que serve de comparação entre os países com o objetivo de medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população.

Se faltam praias próximas, nos arredores e até mesmo no próprio Distrito Federal, o brasiliense  (de nascimento ou coração) pode buscar o remanso de lagos, rios e de exuberantes cachoeiras.

A vegetação é rica. Uma metrópole enfeitada por flamboyants, de diferentes cores e tamanhos, e  mais de mil árvores frutíferas espalhadas por toda parte. São pés de abacate, manga, jaca, pitanga. Tudo à mão. Basta colher e comer.

Mas em vez de saborear e aproveitar de todas essas delícias ou emprestar um olhar para o que há de melhor, há os que preferem descer a língua naquilo que a cidade, por si própria, menos tem culpa: a lama  que já chega grudada na sola dos pés dos forasteiros. Aí, vamos combinar que não há faxina que aguente!

Rosana Tonetti, brasileira, de São Paulo, é jornalista e reside em Brasília. Trabalhou em jornais como Estado de S.Paulo, Correio Braziliense e revistas da Editora Abril. Participou de vários projetos de comunicação corporativa.

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