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abr 02 2013

CONTRAPONTO – ALGUNS TEMAS SOBRE A ECONOMIA

 FAUSTO MOREY

 

Nº 1. Um pouco de inflação não faz mal…

O Brasil tem sido tolerante com uma “febre inflacionária endêmica”. Conviver com taxas de inflação acima de 5% ao ano, por longos períodos, afeta o ambiente econômico, corrompe o sistema de preços, afeta os poupadores e os aposentados, minando o poder de compra dos trabalhadores de menor renda.

Outra consequência é a elevação da sensação de risco nos investimentos de longo prazo, e esta por sua vez afeta o apetite do investidor por compromissos de longa maturação.

Quando a demanda cresce em um ambiente de inflação alta e pouca competição, primeiro o empresário sobe os preços para depois, subi-los um pouco mais…

 

Nº 2. Produtividade? O que é a produtividade mesmo?

O Chile, a Austrália, a Noruega e a Holanda, entre outros, adotaram medidas para conter os efeitos sobre seus mercados internos do extraordinário fluxo de recursos advindos da espetacular elevação dos preços das commodities.

O Brasil tratou esta riqueza extra como permanente, permitindo sua transformação em maiores rendas, salários e gastos públicos. Com a consequente apreciação do real, passamos a nos sentir “mais ricos”, a nos endividar e viajar para o exterior, onde achamos tudo muito barato. A verdadeira prosperidade advém dos ganhos de produtividade…

A perda da competitividade industrial resultou de um conjunto amplo e conhecido de fatores: apreciação do Real, elevação dos preços dos serviços acima dos preços industriais, gargalos na infraestrutura, falta de recursos humanos, baixo índice de inovação tecnológica, carga tributária desestruturada beirando 36,5% do PIB, um sistema burocrático e regulatório inadequado e um Poder Judiciário pouco ágil, entre outros.

A agricultura e a pecuária têm contribuição positiva para a elevação da produtividade, mas parte dela é destruída por uma logística atrasada e ineficiente.

 

Nº 3. Poderemos contar sempre com a poupança alheia…

De acordo com o IBGE, a taxa de investimento brasileiro oscilou ao redor de 17% a 18% do PIB ao ano entre 2000 e 2012, menos da metade das taxas chinesas. O baixo nível de investimento é o principal fator que diferencia a velocidade do crescimento da economia chinesa em relação à brasileira.

Em decorrência da nossa baixa capacidade de poupança, necessitamos de capitais externos para sustentar o crescimento econômico e somos dependentes crônicos destes recursos.

O resultado foi uma ampliação das remessas de lucros e serviços e a fragilização de nossas contas externas, com a geração de déficits em transações correntes que já beiram US$ 65 bilhões ao ano.

Vivemos uma elevada liquidez no mercado internacional, com taxas de juros negativas e o mercado inundado por recursos fornecidos pelos Bancos Centrais ou por emissão de moeda.

Porém, o que ocorreria com o Brasil diante de uma mudança (esperada) de ciclo? Não seria necessária a elevação dos juros nos EUA. Bastaria o Federal Reserve sinalizar ao mercado o encerramento das suas rodadas de compra de títulos do Governo Americano, para ocorrer uma redução drástica da liquidez no mundo.

Países com alta dependência de financiamento externo em suas economias, como o Brasil, sofreriam muito.

 

Nº 4. O mercado imperfeito não é para todos…

Não somos adoradores do mercado, mas certas indústrias estão no jardim de infância do capitalismo. O governo, ao escolher os setores que precisam de proteção e incentivo, causa incerteza nos demais setores.

A ampliação das barreiras tarifárias à entrada de veículos importados e a desoneração fiscal não foram suficientes para uma retomada sustentável do nível de produção de veículos e os estoques estão subindo novamente – se acumularam em função de erros de avaliação empresarial. Em condições normais, as empresas concederiam descontos aos consumidores para aumentarem as vendas.

A indústria automobilística gera muitos empregos e os descontos foram bancados pelo povo. Sim, pelo povo, pois quando o governo abre mão pontualmente de impostos, todos pagam para que alguns comprem produtos “mais baratos”.

Além disto, a margem de lucro das empresas não é afetada – tudo “muito solidário”. O cidadão fica com a conta, mas o risco de desemprego no setor não está afastado. O setor automobilístico, o da linha branca e o de material de construção, entre outros, têm contado com apoio do governo.

Porém, inúmeros setores menos afortunados da indústria estão à deriva. Recentemente foram adotadas medidas para a redução dos encargos trabalhistas, mas intervenções pontuais só acumulam distorções. Qual será a próxima área a ser beneficiada?

 

(COMENTÁRIO DA PÁGINA ELETRÔNICA CONTRAPONTO, DO CONSULTOR FAUSTO MOREY)

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