O desperdício, a poluição e falta de planejamento provocaram a crise de abastecimento de água que atinge a região Sudeste. É preciso ações “duras” do Poder Público e políticas a longo prazo para resolver o problema e evitar que volte a acontecer.
A opinião é de Marcos Freitas, professor e coordenador do Instituto de Mudanças Globais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo. Eles participaram de um bate-papo promovido pelo Portal EBC
Para Freitas, o cenário atual está longe de acabar. “O período chuvoso termina em abril e os reservatórios continuam muito baixos. Se medidas não forem tomadas e seguidas de maneiras mais duras, a gente estará em cinco anos discutindo a dessalinização de água e começando a discutir mudanças de atividades econômicas para outras regiões do Brasil. Por enquanto, há uma certa dificuldade do Poder Público de declarar a gravidade do problema”, disse.
Na avaliação de Freitas, a interligação do Sistema Cantareira com a Bacia do Rio Paraíba do Sul, anunciada em janeiro, e a utilização do Aquífero Guarani ainda precisam ser melhor estudados.
“É preciso levar em consideração que o Rio Paraíba do Sul já abastece 14 milhões de pessoas e o consumo está aumentando. E quanto ao Aquífero Guarani, a gente não tem informações de tempo de recarga, de qualidade da água”, destacou.
Segundo Maurício Broinizi, houve falha de planejamento para enfrentar a crise. “Em 2003, a própria Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] previa que a região da Grande São Paulo poderia ter problema de abastecimento até 2010. E de lá para cá praticamente nada foi feito para reforçar o abastecimento, reeducar a população”, disse.
Broinizi ressaltou ainda que é preciso campanhas de orientação mais incisivas, e com mais informações, para que a população saiba procurar alternativas, como a captação da água da chuva e o reuso de água.
“A era da abundância e do desperdício de água acabou. Nós vamos ter que economizar muito, talvez entrar em racionamento pesado, para que a água se sustente nos próximos anos”, disse.