RENATO RIELLA
Conversei longamente com uma brasileira brilhante, que é hoje uma das principais consultoras de investidores nos Estados Unidos. Ela disse, preocupada, que os investidores estão fugindo do Brasil e que a imagem do nosso país está ruindo.
Falamos em tom civilizado. Na verdade, os que fogem são principalmente aqueles especuladores que captavam dólares no Japão, na Alemanha e até nos Estados Unidos, a juros perto de zero, e vinham comprar títulos do governo do Brasil, sendo remunerados a juros que chegaram até a 20%.
A presidente Dilma jurou, na campanha, que baixaria a taxa oficial de juros (Selic) para um dígito. Fez mais do que isso e a taxa chegou à faixa dos 7%, estando hoje nos 7,50%.
Nesta quarta, o Comitê do Banco Central pode aumentar a Selic para 7,75%, pressionado por opiniões diversas, que temem a volta da inflação.
Esta é uma discussão de viés psicológico. Se forem aumentados os juros, a curto prazo, só quem ganha são aqueles especuladores internacionais. A administração da dívida pública brasileira, acima de R$ 2 trilhões, aumenta em seguida e aumenta a remuneração desses chamados “investidores”, muitos deles picaretas mundiais.
No mercado interno, o reflexo de uma mexida nas taxas oficiais de juros demora meses e meses para ser sentido.
Temos no Brasil uma inflação momentaneamente em alta, tendendo a piorar este mês, pois o dólar está subindo, há reajuste de ônibus em diversas cidades (São Paulo, Rio, Goiânia), o feijão subiu 40%, etc.
Em paralelo, de forma contrastante, o consumo está caindo, assim como a produção industrial.
Há uma regulação da economia em andamento nas ruas e isso vai acabar ocorrendo de forma natural e gradual, sem maiores intervenções do Estado.
Mas o Banco Central precisa demonstrar ao mercado internacional que tem autonomia e não é pau mandado da presidente Dilma. Por isso, o provável aumento dos juros para 7,75% a ser anunciado hoje à noite.
Como dizia Tom Jobim, o Brasil não é um país para amadores, e isso vale para todos os que analisam o nosso ambiente com visão de Primeiro Mundo. Por aqui, no final, tudo dá certo. O povo aceita qualquer coisa, inclusive pagar juros de Casas Bahia ou 13% ao mês no cartão Visa. Esta é a nossa diferença.