RENATO RIELLA
O Estado brasileiro está perdendo o controle social dos grandes centros. Os conflitos começaram em junho, com manifestações nas áreas mais valorizadas das maiores cidades, e está se espalhando para as periferias de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, entre outras.
O exemplo mais gritante aconteceu ontem, em São Paulo. No final do dia, cerca de 90 pessoas que protestaram pela morte de um rapaz de 17 anos foram detidas, depois de promoverem cenas cinematográficas de vandalismo, transmitidas ao vivo pelo helicóptero da TV Globo.
O momento mais incrível aconteceu quando um rapaz ainda não identificado assumiu o volante de uma enorme carreta, que levava potente tanque de combustível. Esse motorista improvisado fez manobra em plena Fernão Dias e passou a dirigir na contramão, prestes a gerar explosão monumental, se batesse de frente com algum carro grande.
Depois disso, ele abandonou a carreta e, cercado de companheiros, tomou um ônibus de turismo, mandando descer todos os passageiros.
Durante horas, os revoltosos bloquearam a Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte. Segundo a PM, durante os protestos ocorreram saques a lojas, sendo que num deles uma pessoa foi baleada por assaltantes. A vítima foi encaminhada ao Hospital Municipal São Luiz Gonzaga.
Cinco ônibus e três caminhões foram incendiados pelos manifestantes. Os detidos foram encaminhados à 73ª Delegacia de Polícia, em Jaçanã.
Não dá para caracterizar esses atentados de cunho terrorista como sendo Black Bloc autênticos, mas tinham características assimiladas por esse grupo clandestino, com indivíduos mascarados circulando nas ruas de forma ameaçadora.
Caracteriza-se um estado de profunda revolta das populações das classes D e E. A situação ontem ficou tão grave que o governo paulista entrou em contato com o Ministério da Justiça, à noite, pedindo socorro das forças de segurança federais.
A verdade é que, desde os protestos de junho, os diversos Poderes da República não deram mínimas respostas aos descontentamentos do povão.
Pelo contrário, foram gerados novos escândalos, como a crise de Eike Batista, a corrupção da Siemens no Metrô de São Paulo, além de diversos casos de mordomia exagerada e desvio de recursos públicos.
Tudo isso leva a população jovem, que aparece com elevado índice de desemprego nas pesquisas, a um estado de revolta contra todos os governantes. Em São Paulo, por exemplo, quem domina é o PSDB, mas o PT está à frente da prefeitura municipal. No Rio, é o PMDB. Assim, não há cor partidária nos protestos.
Para os chamados “vândalos”, não se salva ninguém na política brasileira. Se continuar assim, vai morrer muita gente nos próximos meses, pois os conflitos estão subindo de nível, a cada momento mais violentos.