O preconceito às vezes impede a gente de julgar as coisas direito. E de onde menos se espera, é de onde pode sair alguma coisa.
Esses comentários valem para Evo Morales, que foi eleito pela terceira vez na Bolívia e, visto de longe, parece ser um bom presidente.
O político tosco, índio, que vive jogando bola aqui ou ali, conseguiu mesmo dominar um país complicado, atingido sempre por golpes e ditaduras.
Mas a vitória era esperada: em nove anos de governo, Morales erradicou o analfabetismo, reduziu a pobreza e a desigualdade, e garantiu alto índice de crescimento econômico, mantendo a inflação e os gastos públicos sob controle.
O líder sindical dos cocaleros (cultivadores da coca), que chegou ao poder com um discurso anti-imperialista, é hoje elogiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial – organizações que ele criticou.
“O FMI elogia nossa estabilidade econômica, mas essa não é um patrimônio do FMI, nem dos economistas neoliberais”, diz o ministro da Economia da Bolívia, Luiz Arce. “Chegamos aos resultados que eles pedem, mas sem usar as fórmulas deles. Usamos nosso modelo, que tem ingerência do Estado e investe dinheiro na área social”.
Segundo Arce, o desafio dos primeiros dois mandatos de Evo Morales foi recuperar as riquezas naturais da Bolívia (minérios e gás natural), que ele nacionalizou para poder investir em educação, saúde e planos sociais.
“O petróleo rende US$ 6 bilhões ao ano, que equivalem a cerca de um quinto do nosso Produto Interno Bruto, de US$ 31 bilhões. Agora, 85% desse dinheiro ficam no país e apenas 15% com as transnacionais”, explica Arce.
Este ano – segundo relatório da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe – a Bolívia é o país que mais vai crescer na América do Sul: 5,5% (o dobro da média regional).
De acordo com Arce, esse crescimento deve-se ao aumento do consumo interno, que compensou a desaceleração da economia de países desenvolvidos, compradores de produtos bolivianos.
“Construímos estradas, que ajudaram a aumentar a produção, porque integraram partes da Bolívia que estavam isoladas”, explicou.
Mas o desafio, nos próximos cinco anos, será manter o crescimento de uma economia que depende dos mercados dos países vizinhos (principalmente do Brasil) e reduzir a pobreza, que ainda afeta um quarto da população.
Segundo Arce, o próximo passo é explorar novas riquezas, como o lítio (usada para fabricar desde remédios para depressão até baterias e pilhas). A Bolívia tem a maior reserva mundial de lítio, mas não está exportando a matéria-prima porque quer industrializá-la.
“A ideia é fabricar pilhas aqui e outros produtos, como fertilizantes, feitos de fosfato, ou plásticos”, destacou Arce. (Com informações da Agência Brasília)