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jun 09 2013

FRANCISCO, O FRANCISCANO, VAI SACUDIR O BRASIL

RENATO RIELLA 

Já lembrei aqui que a passagem do Papa João Paulo II pelo Brasil, em 1980, no início do governo do presidente-general João Figueiredo, quebrou a ditadura e reintroduziu na mídia brasileira temas como liberdade, redistribuição de rendas e respeito aos direitos humanos. A partir daí, ninguém segurou o Brasil e a democracia nos foi devolvida pelo próprio Figueiredo em 1984.

O Papa Francisco vem ao Brasil na segunda quinzena de julho, participando da Jornada Mundial da Juventude, no Rio. Sua vinda vai mexer com graves temas nacionais, como a distância entre pobres e ricos. Certamente, depois que for embora, nada vai segurar o debate em torno da injustiça social vigente no nosso país.

No entanto, ao contrário do momento vivido por João Paulo II, em 1980, os grandes desafios serão enfrentados pelo próprio Papa Francisco no contato com a juventude católica.

Todos querem, por exemplo, uma nova abordagem para os crimes de pedofilia patrocinados durante décadas pela Igreja Católica.

 

COMO AVANÇAR NA QUESTÃO

DO CASAMENTO DOS PADRES?

É preciso discutir de forma corajosa a questão do celibato dos padres. Não se aceita que jovens, em pleno vigor sexual, sejam ordenados sacerdotes, castrados na função orgânica inevitável do ser humano. Não há na fundamentação católica oriunda da Bíblia determinação nesse sentido. Acredita-se que, ao longo do tempo, interesses patrimoniais levaram a Igreja a adotar o celibato (imaginem uma mulher de padre cobrando pensão alimentícia ao Vaticano!)

O Papa Francisco terá de se posicionar também sobre os gays. Não dá para deixar marginalizada uma parcela crescente da humanidade, numa visão atrasada que só se vê em alguns países muçulmanos (não em todos). A Igreja precisa evoluir nessa área.

No Brasil, houve grande evolução da Missa. Temos padres cantores, carismáticos, missas de multidões e outras expressões de popularização do culto católico. Até onde poderemos progredir? Esta é uma questão que se impõe diante do conservadorismo do Vaticano, enquanto outras formas de manifestação de fé crescem no mundo.

O Papa vai encontrar no Brasil um país onde os evangélicos crescem de forma gritante, às vezes com igrejas de esquina, que  não têm ligação com nenhum grande grupo religioso. E não dá para desprezar esse trabalho feito por neo-missionários, que levam a palavra de Deus, com a Bíblia nas mãos, demonstrando mais garra do que a média dos padres católicos.

Se Francisco for um Papa pragmático, deve acenar com esses pastores do povo, pois levam de qualquer forma a mensagem para as massas, de uma forma que a Igreja Católica não se dispõe a fazer.

 

O BRASIL QUER UMA IGREJA

QUE NÃO DISCRIMINE NINGUÉM

É engrandecedor ver que o Papa Francisco mandou batizar qualquer um. A criança não pode ser discriminada por ser filho de prostituta, ou de casal gay, ou de casais não casados na Igreja, etc. Mas essa mentalidade ainda impera nos velhos padres, que pensam em fazer uma reserva de mercado burra, que fecha a porta para novos fieis.

Tivemos este ano a excomungação de um jovem padre, charmoso e respeitado, porque era considerado rebelde. O hoje famoso Padre Beto foi expulso da Igreja e virou ídolo, sendo exposto em entrevistas nas quais usa frases chocantes.

Ele diz que a Igreja não pune os pedófilos (verdade em muitos casos) e coage o padre que aceita os gays como cristãos. Esta é uma visão moderna da Igreja que a maioria dos brasileiros apóia (o Brasil é um país livre, de vanguarda). Como o Papa vai se posicionar se for questionado sobre o Padre Beto?

Por fim, o relacionamento da Igreja com o governo brasileiro é uma incógnita nesta visita papal. É notório que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma não têm antecedentes religiosos, embora o PT, ao longo do tempo, tenha merecido apoio escancarado das alas avançadas da Igreja Católica.

O Papa Francisco certamente vai empregar nas suas homilias uma linguagem que pressione o governo Dilma a respeitar mais as minorias (índios e negros, principalmente) e a se aprofundar na redução do fosso que separa ricos e pobres. Pode ser que Dilma aproveite esse discurso para ampliar os instrumentos de justiça social sob a ótica petista. Vamos ver!

O Brasil não será o mesmo depois da passagem de Francisco, o franciscano.

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