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abr 03 2014

Há muita coisa suspeita no aumento dos juros para 11%

RENATO RIELLA

Quase todas as doenças, quando em estado grave, geram febre. É o sintoma de que o organismo está abalado. Mas o tratamento deve ser feito em busca das causas da doença.

A inflação é apenas uma febre e devem ser buscados remédios para as suas causas. Em todo o mundo é assim.

No Brasil, ao contrário do que se vê no mundo, os governos aplicam sempre os juros mais altos do planeta para conter a expansão inflacionária.

Ontem, mais uma vez, o Banco Central aumentou a taxa de juros oficial, a Selic, para 11%, fixando-a como a mais elevada do mundo. Há anos ostentamos essa horrível condição, superada durante pequeno tempo no início do governo da presidente Dilma Rousseff.

Os economistas, tal como médicos que apenas indicam remédios contra a febre, não veem outro saída contra a inflação, se não for o aumento dos juros.

No entanto, países diversos vivem livres da inflação usando taxas de juros perto do zero. Por que funciona lá fora e não aqui?

GOVERNO FAZ O JOGO DOS
ESPECULADORES INTERNACIONAIS

Quem ganha com o aumento dos juros não é o país. A dívida pública do Brasil ultrapassou a faixa dos R$ 2 trilhões. Grande parte dessa dívida está atrelada à Selic e cresce quando os juros são aumentados.

Em 2014, o Brasil deve gastar quase R$ 300 bilhões somente em juros da dívida pública. É dez vezes mais do que as despesas reconhecidas pelo governo em relação à Copa do Mundo.

Especuladores internacionais captam, como empréstimos, dólares em países onde os juros estão perto do 0%. Pegam esse dinheiro e compram títulos do governo brasileiro, onde são remunerados à base de 11% ao ano. É um lucro monstruoso.

Entre esses especuladores, estão as grandes instituições bancárias nacionais, que ostentam lucros escandalosos a cada trimestre, graças a esse tipo de “investimento”.

Por incrível que pareça, o governo Dilma está acorrentado e precisa desse tipo de captação danosa. Age igual a muitas famílias que usam o cheque especial a 10% ao mês ou os empréstimos de cartões de crédito, a 13% ao mês, para pagamento das contas domésticas.

Quem vive de cheque especial não sai nunca do buraco. Mas os homens que mandam na economia brasileira, todos eles comprometidos com os grandes grupos brasileiros, aumentam as taxas de juros a cada 45 dias, quebrando o País.

Se inflação é febre, devemos ver o que causa este aumento de temperatura. Por exemplo, quando o governo vem aumentando, ano a ano, o salário mínimo acima das taxas da economia, está repassando para os custos dos produtos uma inflação.

A chamada cesta básica vem sido contida artificialmente, reduzindo os efeitos da inflação junto ao povão. Houve isenção de impostos nesses produtos. Mas no resto, os preços sobem muito.

Outro item popular contido é a gasolina, assim como as passagens de transporte coletivo (em Brasília, os ônibus não sobem há sete anos).

A energia elétrica e as tarifas de água sobem acima da inflação, assim como diversos outros serviços. Todos esses, quando os juros aumentam, geram custos maiores para os fornecedores, causando aumento de tarifas.

É tudo muito complicado. Até o dólar, que vive cotado em faixas elevadas, também impacta no preço dos alimentos.

Aumento de taxa de juros é remédio amargo para a febre, somente para a febre, e agrava os fatores que causam a inflação. Mas o mundo econômico não quer discutir isso.

Aumentar juros é solução suspeita usada na economia brasileira para tudo. Alguns poucos especuladores estão ganhando muito com isso.

Imaginem se pudéssemos usar os R$ 300 bilhões anuais pagos de juros em benefício dos brasileiros!

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