RENATO RIELLA
A queda dos juros representava para a presidente Dilma Rousseff o que foi o Plano Real para o presidente Fernando Henrique Cardoso. Aos poucos, a população começou a perceber que estava pagando menos nas compras a prazo e no uso de cheque especial, de cartões, etc.
Esse trunfo político está sendo perdido por Dilma, pois a taxa anual de juros Selic começa a se aproximar dos dois dígitos e desde ontem está em 9,5%.
Na campanha eleitoral de 2010, Dilma prometeu ao eleitorado que os juros ficariam abaixo dos dois dígitos – e isso aconteceu. Mas agora, ainda este ano, se houver nova elevação de 0,5%, sua promessa estará quebrada.
Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic de 9% para 9,5% ao ano. Foi o quinto aumento seguido desde abril, dos quais quatro com variação de 0,5 ponto percentual.
Alega-se que a elevação da taxa de juros foi mantida para conter a demanda doméstica por compras e impedir o avanço da inflação, que acumula 5,86% nos últimos 12 meses. Ao final da sétima reunião do ano, o Copom divulgou que “a decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. A decisão do Copom foi por unanimidade.
DÍVIDA PÚBLICA ABALADA
COM AUMENTO DA SELIC
De acordo com números do Tesouro Nacional, referentes a agosto deste ano, 22,6% da dívida mobiliária federal estavam atrelados à Selic. A dívida pública brasileira é motivo de preocupação para os organismos internacionais e ultrapassa a casa dos R$ 2 trilhões, correspondendo hoje a 68% do PIB.
O Dieese calcula que cada subida de 0,5 ponto percentual na Selic equivale a acréscimo de R$ 3 bilhões/ano na dívida pública, transferidos em grande parte para os bancos, que são os maiores credores do Estado, e para especuladores internacionais, que captam dólares no exterior a taxas baixas para se dar muito bem no Brasil.
Vale registrar, com grande preocupação, que o Brasil despeja mais de R$ 200 bilhões este ano para cobrir despesas com essa dívida pública de R$ 2 trilhões. Esse compromisso gera grande aperto orçamentário para o governo federal.
A taxa básica de juros cresceu 2,25 pontos percentuais no ano – passou de 7,25%, em abril, para os atuais 9,5% – e, de acordo com expectativas dos analistas financeiros, deve aumentar ainda mais nas próximas reuniões.
Apesar do abrandamento da inflação nos últimos três meses, os analistas acreditam que a taxa básica de juros terminará o ano em 9,75% ou 10%.