Tenho uma maneira diferente de encarar a morte e procuro ver o lado engrandecedor de cada perda.
Assim, registro a perda de um grande gênio brasileiro, José Dion de Melo Teles, um dos maiores administradores com quem convivi, responsável pela construção do Serpro.
Dion é um dos meus mitos. Trabalhei com ele no Serpro, onde implantei a poderosa revista Tema, ainda hoje existente, com muita liberdade.
Conto uma história de Dion que serve de exemplo para todos nós. Consta que a Polícia Federal um dia convocou Dion para ver um problema gravíssimo.
Lá chegando, ele soube que um jovem hacker fora preso porque conseguiu invadir informações de alto sigilo do Serpro: Imposto de Renda, Detrans, etc. Parecia impossível, pois na década de 80 não havia redes abertas, como Facebook, emails, etc.
Dion pediu ao delegado para conversar isolado com o rapaz. Ficaram horas conversando.
Na saída, Dion assustou o delegado, afirmando que não daria queixa policial contra o hacker. E mais: a partir daquele momento o jovem era o mais novo contratado do Serpro, uma empresa estatal que valoriza os gênios.
Consta que esse ex-hacker até hoje é uma das cabeças pensantes da Tecnologia da Informação brasileira.
Dion era democrata, humano e competente, mas muito fechado, mais velho do que eu. Um dia me convidou para um passeio na área rural de Brasília.
Chegando lá, me mostrou uma chácara que mantinha, incrível, precursora da agricultura orgânica hoje em moda. E, no campo, com chapeu de fazendeiro, se transformou em outra pessoa: sorridente, ágil, falador…
Alguém devia escrever um livro com a história de José Dion, o precursor da TI no Brasil. (RENATO RIELLA, com informações de Paulo Roberto Jucá)