Vocês ficam falando de coisas graves, aí eu me lembro da Bahia.
A Bahia não é nenhuma Pasárgada, mas afinal de contas é mesmo a Terra de Todos os Santos. Todinhos!
Foi assim que relembrei de quando tinha minhas fraquezas, ainda muito garotinho.
Minha mãe preta, Maria da Hora dos Santos, sentenciava: “Este menino está com quebranto!”
Minha mãe branca, a famosa Cecília, que mandava em todo mundo, completava: “É mal olhado.”
Não sei porque, mas Cecília me achava a criança mais bonita do mundo, passível de mal olhado sempre, vítima do olho gordo dessa gente que não pode ver nada especial no mundo.
O certo é que, nos meus quebrantos, minhas duas mães chamavam uma benzedeira baiana autêntica. Bem negra, de roupa branca, já meio velha, sisuda, filha de escravos.
A curandeira chegava com folhas de todo tipo. Estendia um pano branco e me sentava num banquinho.
Durante mais de meia hora, me dava uma verdadeira surra (sem dor, é claro) com ervas diversas. Infelizmente, não sei quais. Não fui repórter para registrar essa cultura africana pura…
Completado o trabalho, minha mãe branca dava a ela alguma grana básica (coisa barata, claro). E a benzedeira dizia: “O minino estava muito carregado, muito. Como é que este povo fica jogando essas coisas numa pobre criança!”
Logo, logo, eu ficava legalzinho, a mil por hora, sem nem lembrar que tive quebranto.
Assim, amigos e amigas, enquanto vocês ainda se lembram da Dilma, eu me lembro da Bahia.
Afinal, há muito tempo a Bahia me deu régua e compasso.
A propósito, nunca mais tive quebranto. Com o tempo, fiquei feroz. Nada me pega. Ameaças são cânticos celestes!
Se bem que, hoje, já não tenho potencial para despertar inveja em nenhuma mãe. Portanto, sem risco de mal olhado. Além do mais, onde encontrar nova benzedeira baiana? (RENATO RIELLA)
