RENATO RIELLA
Há alguns anos, um experiente engenheiro me disse que o Plano Piloto ficaria inviabilizado com a expansão residencial, principalmente no caso do Sudoeste e do Noroeste.
Pensei que fosse a questão do trânsito. “Não, rapaz! São as águas. Vão destruir boa parte da Asa Sul e principalmente a Asa Norte”.
Claro que não acreditei. Mesmo assim o carinha dramático explicou.
Disse que a rede de águas pluviais do Plano Piloto, que leva as águas até o Lago Paranoá, foi prevista apenas para Asa Norte e Asa Sul.
Com o adensamento pleno dessas áreas, a rede chegou ao limite. Por isso, por exemplo, é comum o estouro de bueiros, pois os canos precisam reduzir sua pressão interna. E ainda há outras ameaças, como a recém-abortada quadra 901 Norte (dos hotéis), que a deputada Liliane Roriz felizmente conseguiu impedir.
As águas que descem do Sudoeste, recolhidas nas vias asfaltadas, são dirigidas para a rede pluvial do Plano Piloto. Boa parte dessa tubulação passa pelo Parque da Cidade, onde hoje é comum alagamentos.
No Parque da Cidade, com enorme área verde, boa parte dessas águas consegue ser absorvida pela terra, minimizando o problema.
Na Asa Norte, as águas que começam a vir do Noroeste não têm fontes de desvio. Encaminham-se para tubulações esgotadas e entupidas, gerando tragédias crescentes.
O governo a assumir em 1º de janeiro precisa levar esta ameaça a sério. O problema vai piorar muito quando o Noroeste estiver plenamente ocupado, inviabilizando a Asa Norte. Serão necessárias grandes obras para evitar tragédias (pode morrer gente!)
A crise não tem nada a ver com índice pluviométrico elevado, pois temporais de fim de tarde sempre foram realidade em Brasília. A cidade está estourando, e não é só no trânsito.
Quem viver verá, em outros verões.